O valor agregado através da genética

20/12/2015
“Temos concorrentes fortes e precisamos ganhar mercado. O pecuarista deve "construir" seus animais de forma a atender os nichos que pagam melhor. Não é vender carne em carcaça. É vender o bife empanado, os cortes nobres, a um preço diferente daquilo que se está vendendo como commodity. Ainda somos grandes exportadores, não tenho dúvida disso, mas não podemos continuar vendendo carne a granel. Precisamos agregar valor ao nosso produto para vender um produto diferenciado”, destaca o pesquisador e diretor da Geneal, Dr. Rodolfo Rumpf.
Hoje, já se sabe que quem dita à regra para a produção do boi é o mercado. E o mercado está no consumidor final. De tempos em tempos, ele renova seus hábitos de consumo, partindo de tradições, preocupações e costumes que interferem diretamente na escolha de compra. Anos atrás, acreditou-se na picanha magra com a capa de gordura externa como a melhor opção para abastecer os churrascos de domingo. Porém, o mercado surpreendeu os criadores. A busca por carne entremeada é crescente - no ano passado, o Angus foi a segunda raça que mais inseminou, perdendo apenas para o Nelore, de acordo com relatório da Associação Brasileira de Inseminação Artificial (Asbia). 
O case é apenas uma mostra de que o pecuarista deve estar atento a essas oscilações do mercado para manter sua competitividade. O Nelore evoluiu muito, embora ainda existam desafios pela frente. Somente nas Provas de Ganho de Peso (PGPs) oficiais da ABCZ, a raça teve um aumento de 79% na quantidade de animais avaliados a pasto nos últimos 18 anos. Já no Controle de Desenvolvimento Ponderal (CDP) a raça teve um salto de 250 animais participantes em 1968, para mais de 175 mil em 2014, liderando a categoria com 2,8 milhões de animais testados ao longo destes anos.  
Entre as muitas características da raça, sua capacidade de responder rapidamente aos estímulos zootécnicos talvez tenha sido a mais importante para que o Nelore continuasse liderando a produção de carne no país, e ainda em várias partes da América do Sul. “A raça Nelore no Brasil apresenta, entre outras qualidades, uma impressionante plasticidade genética. É praticamente possível atender a qualquer mercado de carne com a genética do Nelore, claro que dependendo do foco de seleção”, afirma o superintendente Técnico da Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ), Luiz Antônio Josahkian
No Brasil, o Nelore se divide em três linhagens. São os Puro de Origem (PO), que são fruto do cruzamento entre os primeiros animais da raça a chegarem ao país com as raças taurinas, trazidas durante a colonização. Têm-se ainda os Puro de Origem Importados (POI), mantidos por tradicionais criadores que preservam ao máximo a genética dos animais vindos da Índia nas primeiras importações. E, agora, têm-se também os registrados pelo Livro Especial de Importação (LEI). Estes últimos são resultado de um esforço coletivo em busca dos animais com a melhor genética em terras indianas. Chegaram aos planteis brasileiros em 2009. 
Estes três tipos de animais, com características diferentes, garantem a variabilidade genética necessária para atender ao mercado com rapidez. Os bancos de germoplasma guardam o que há de melhor para se alcançar diferentes resultados de seleção, de acordo com o comprador a ser atendido. Embriões, sêmen, células e tecido preservam a genética dos animais diferenciados. “Você vai ter uma linhagem para produzir carne de qualidade que provavelmente não vai ser a melhor para ganho de peso, mas é necessário tê-la representada”, evidencia Rodolfo. 
O melhoramento é ponto chave nesta discussão. “Hoje, a gente sabe que se o Brasil quiser continuar sendo um líder na produção de alimentos do mundo, ele tem que estar muito bem aparelhado: do ponto de vista da sua base genética e de tecnologia”, prossegue o geneticista. Rodolfo destaca ainda a importância de o país ter uma base genética forte, tecnologia consolidada, gente qualificada e onde buscar insumos para continuar à frente no setor. “Se você tem a base genética preservada, você pode ser audacioso no seu programa de melhoramento. Se der errado, pode voltar buscar as ferramentas, os genes, e reconstruir o que o mercado quer”, analisa.
 
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